Embora os jovens brasileiros sejam altamente conectados, quando o assunto é trabalho, estão alheios à transformação digital da economia. Este é o resultado da pesquisa “Os Jovens e o Futuro do Trabalho“, realizada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que ouviu 2.015 pessoas de 16 a 29 anos em todo o país no mês de setembro.
Segundo o levantamento, conduzido pelo Instituto FSB Pesquisa, apenas 20% dos entrevistados entendem que o emprego do futuro terá como base as tecnologias de ponta. “A pesquisa mostrou uma grande dissonância entre como os jovens e o setor produtivo veem o mercado de trabalho”, alerta o presidente da ABDI, Igor Calvet.
Pela primeira vez, a ABDI realizou uma pesquisa para ouvir os jovens sobre o futuro do trabalho. O objetivo é fazer um diagnóstico sobre como os jovens estão se preparando para as transformações tecnológicas que estão revolucionando o jeito de trabalhar em todo o mundo.
“Os dados são um alerta”, afirma Igor. “Se não houver políticas e ações que conscientizem os jovens para a transformação digital, não haverá mão de obra qualificada para atender a demanda do setor produtivo”.
Diante das mudanças que mostram, sobretudo, a extinção de postos de trabalho por automação, dos jovens pesquisados que trabalham ou já trabalharam, cerca de 43% dizem que é baixo o risco de sua atividade deixar de existir dentro de um prazo de 10 anos. Apenas 17% acham que o risco é alto ou muito alto. Outros 13% consideram o risco médio. Quando perguntados sobre quais as profissões devem perder espaço nos próximos 10 anos, metade dos jovens não sabe dizer.
A maior parte dos jovens mostrou não ter conhecimento sobre as inovações. Tirando internet e comércio digital, a minoria se diz familiarizado com Big Data (39%), impressoras 3D (37%), inteligência artificial (36%), computação em nuvem e realidade virtual aumentada (35%), robótica (30%), biotecnologia e automação de processos (28%).
Quando perguntados se estão mais empolgados ou mais preocupados quanto ao uso de tecnologias em substituição ao trabalho humano, eles se dividem: 34% se dizem mais empolgados, 34% mais preocupados e 27% se declaram indiferentes.
Eles vivem conectados com os aparelhos de celular, mas apenas dois em cada 10 jovens brasileiros afirmam que se aprende mais e melhores conteúdos na internet do que na sala de aula tradicional. Para a grande maioria (77%), se aprende mais e melhor em salas de aulas tradicionais.
A formação/qualificação profissional é citada por 49% dos entrevistados como um dos dois principais obstáculos para se conseguir uma vaga no mercado de trabalho brasileiro, à frente de falta de experiência (40%) e baixa oferta de vagas em si (32%).
Uma curiosidade da pesquisa é a conclusão de que a geração apelidada hoje de “nem nem” é a minoria na população dos jovens de 16 a 29 anos. A maioria (38%) só trabalha; os que estudam são 25% desse grupo. 21% estudam e trabalham; e 16% nem estudam nem trabalham.
Além disso, apenas quatro de cada 10 jovens que ainda não fizeram faculdade afirmam ter interesse em cursar e concluir o ensino superior. Mas os cursos mais desejados são bastante tradicionais: direito, enfermagem, medicina e administração.
Metade dos jovens (51%) diz ter interesse em fazer um curso técnico/profissionalizante. No entanto, os cursos mais almejados são também muito tradicionais, como enfermagem, informática e mecânica.
Outros estudos
Estudo feito pela ABDI em agosto deste ano mostrou que, no Brasil, existem hoje cerca de 21 milhões de trabalhadores cujas funções têm probabilidade de automação. O levantamento resultou de um cruzamento realizado entre a pesquisa da OCDE, deste ano, sobre o futuro do trabalho, envolvendo 32 países, com informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), banco de dados do Ministério da Economia.
De acordo com esse estudo, o setor mais afetado pela automação é o do comércio varejista (23,17%), com 4,6 milhões de postos com probabilidade de automação. A indústria de transformação tem 6,7 milhões de ocupações que podem ser substituídas por robôs.
Além disso, outro estudo divulgado recentemente pelo Senai, o Mapa do Trabalho Industrial, mostrou que as profissões ligadas à tecnologia terão alto crescimento até 2023, enquanto que formações tradicionais vão perder espaço. O Mapa aborda as demandas de formação para suprir as necessidades da indústria.
De acordo com o levantamento, as maiores taxas de crescimento serão de ocupações que têm a tecnologia como base. Além dos condutores de processos robotizados, estão pesquisadores de engenharia e tecnologia; engenheiros mecatrônicos e afins; diretores de serviços de informática; operadores de máquinas de usinagem etc.
O Mapa do Trabalho Industrial identificou que o número de empregos criados nessas ocupações ainda é baixo em relação ao total de empregados no Brasil, mas o crescimento acelerado mostra que profissões com base tecnológica são tendência no mercado de trabalho.
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