Uma tendência atual nos confinamentos brasileiros é o fornecimento de uma dieta rica em grãos e alimentos não fibrosos. No entanto, se o pecuarista errar os cálculos na hora da formulação e não colocar a quantidade mínima necessária de fibra efetiva, aumentam-se as chances do desenvolvimento da acidose ruminal, doença metabólica que pode levar o animal à morte.
Essa mudança na alimentação dos bovinos confinados ocorre, de acordo com o pesquisador Sérgio Raposo de Medeiros, da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP), porque é mais eficiente e frequentemente mais econômica. Como isso é possível? Raposo conta que, quando o produtor aumenta a porcentagem de concentrado e diminui a quantidade de fibra, o animal acelera a deposição de gordura e, assim, chega ao peso ideal mais rapidamente. Além disso, essas dietas (chamadas “quentes”) são biologicamente mais eficientes. Mas o pecuarista que optar por aumentar o concentrado na alimentação bovina precisa ficar atento à ocorrência de acidose ruminal.
Acidose
A doença é decorrente de uma produção exagerada de ácido lático no rúmen. Segundo o pesquisador, quando os animais consomem muito amido de forma brusca, a fermentação intensa e rápida desequilibra o pH do rúmen. O ideal é que o pH fique em 6,2. No entanto, com uma dieta rica em concentrado pode haver um excesso de produção dos ácidos orgânicos, reduzindo o pH e alterando a população de bactérias, levando à predominância das produtoras de ácido lático.
A consequência desse desequilíbrio é a acidose ruminal, que predispõe o animal a outros problemas, como a laminite e o timpanismo.
Em geral, basta retirar a dieta com alto concentrado e fornecer alimentos com mais fibra para resolver o problema. No entanto, para cessar o sofrimento do bovino, o veterinário Raul Mascarenhas, da Embrapa Pecuária Sudeste, indica intervenção farmacológica e acompanhamento veterinário. Para corrigir a acidez é comum a utilização do bicarbonato de sódio via oral e soro ringer lactato endovenoso. Para cólicas, quando presentes, podem ser aplicados analgésicos e antiespasmódicos e, para tratar a laminite, um anti-inflamatório não esteroidal.
A acidose também pode se manifestar de forma subclínica, nesse caso, o gado não apresenta sintomas visíveis. O pecuarista deve ficar atento a alguns indicadores, como variação de consumo de alimentos e redução da produção de carne ou leite.
Raposo ressalta que a acidose é uma dor de cabeça que o produtor pode evitar. Para preveni-la, ele recomenda fazer adaptação do animal no confinamento, aumentando paulatinamente o concentrado, além de manter algum ingrediente que seja fonte de fibra efetiva (volumoso, silagem, cana de açúcar, bagaço de cana in natura, feno de gramíneas, etc.). “Uma quantidade mínima de fibra garante que o animal seja estimulado a ruminar, ato no qual há grande produção de saliva que é ingerida. A saliva tem vários componentes que ajudam a manter o pH em níveis seguros, garantindo um bom ambiente ruminal. Chama-se ‘fibra efetiva’, exatamente, por efetivamente estimular a ruminação. Um valor mínimo de fibra efetiva que costuma ser seguro para a maioria das situações é 15% da matéria seca (MS) da dieta. Valores mais baixos que esses, dependendo do caso, podem ser interessantes economicamente, mas é importante contar com o apoio de um técnico para usar valores mais baixos e, portanto, mais arriscados”, explica Sérgio Raposo. Ele destaca que se o pecuarista adotar essa prática, resolve 99% do problema. O pesquisador indica alguns alimentos que possuem uma fermentação mais amigável e substituem o amido, como polpa cítrica, casca de soja e DDG (subproduto da produção de etanol). Ainda, o uso de aditivos pode ajudar, já que, além de melhorar a eficiência da dieta, propicia bem-estar, ao evitar a acidose e outros problemas metabólicos associados. Os mais comuns são narasina, monensina, salinomicina e virginiamicina. Outra recomendação é o fornecimento da dieta em vários momentos do dia.
Com essas medidas simples, o pecuarista evita os problemas com a acidose ruminal, garantindo o bem-estar animal e a eficiência do sistema de produção.
Gisele Rosso (MTb/3091/PR)
Embrapa Pecuária Sudeste
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