O Brasil saiu na frente e, entre os países da América Latina, perde apenas para o Chile no uso da metodologia BIM (Building Information Modelling). A publicação pelo governo federal do decreto 10.306/2020, que regulamenta a utilização da metodologia pelos órgãos públicos, demonstrou que a capacidade de ampliação do uso da tecnologia no Brasil é uma das prioridades da agenda. Esta é a segunda matéria da série sobre o BIM. Nas próximas duas semanas, publicaremos na quinta-feira mais conteúdo sobre o assunto. Leia a primeira aqui.
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) está inserida diretamente na capacitação do BIM no setor privado e no desenvolvimento de um cenário adequado, uma biblioteca, para disponibilizar objetos BIM e estimular o usuário comum e fabricantes.
Em entrevista à ABDI, Gustavo Carezzato, diretor geral da Graphisoft América Latina, empresa multinacional líder em soluções em BIM, comentou os impactos do decreto no país. O Decreto, de 2 de abril de 2020, estabelece a utilização do BIM na execução direta ou indireta de obras e serviços de arquitetura e engenharias realizadas pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal. A iniciativa trará mais precisão, mais transparência e menos desperdício.
De acordo com Carezzato, o BIM é uma oportunidade de modernizar mais o setor de infraestrutura que, apesar de estar se digitalizando, sofre com atrasos. Para o diretor, o caminho a ser percorrido ainda é longo, mas com o incentivo e o movimento da Estratégia Nacional BIM BR, os profissionais já estão se capacitando. Leia a entrevista.
Como vocês avaliam o decreto?
Acompanho o desenvolvimento deste decreto há 4 anos. A publicação de um decreto dessa magnitude, em pleno cenário de pandemia pelo coronavírus, demonstrou que o tema está na agenda de prioridades do governo. Vejo o decreto com ótimos olhos porque vai ajudar toda a cadeia da construção civil. Um outro ponto importante no decreto é que os outros órgãos do governo, não incluídos no decreto, já podem iniciar suas estruturações internas tais como, alteração e desenvolvimento de processos internos e capacitação BIM dos servidores que seja coerente com cada função, para poderem estar preparados para iniciar suas próprias contratações. É um incentivo e uma sinalização para que todos se preparem.
Qual a sua avaliação sobre o BIM no Brasil?
Se considerarmos toda a cadeia da construção civil, é a segunda indústria mais importante, só perde para a agropecuária. Mas a maturidade do Brasil ainda precisa ser desenvolvida. Estamos 60 anos atrasados no desenvolvimento de projetos de infraestrutura. Já desenvolvemos muita coisa boa em BIM se compararmos aos outros países da América Latina que já possuem um histórico longo na utilização do BIM; porém ainda temos muito o que fazer. Felizmente, todo o movimento da Estratégia Nacional BIM BR fez, entre outros pontos, com que os profissionais e principalmente as empresas começassem a investir na capacitação.
E quais os desafios da capacitação em BIM?
Como o BIM é ligado à inovação tecnológica, precisamos de atualização contínua. Não se aprende BIM com uma única ferramenta. A inserção da metodologia deve ser iniciada pelas universidades, que devem incluir a disciplina nas grades de Arquitetura e Engenharias. Algumas já estão fazendo o dever de casa e adaptando seus cursos, mas as mudanças precisam ser aprovadas e validadas junto ao MEC. Outro desafio do BIM é o licenciamento.
Como assim?
Falo sobre o licenciamento das soluções (projetos de arquitetura e engenharia). As autarquias, ao contratarem empresas para o desenvolvimento dos projetos de arquitetura e das engenharias, devem se preocupar com o licenciamento das ferramentas que as contratadas usam pois podem ser coresponsabilizadas caso exista a utilização de licenças piratas. Por isso, as contratantes devem exigir a licença oficial de uso para garantir a segurança de ambas as partes. Uma das empresas públicas no Brasil que atualmente exige a comprovação de licenciamento legal é a Petrobras.
E o cenário nos estados?
Vários estados brasileiros já estão decretos com base no decreto federal. Um exemplo é o consórcio criado entre os estados do Sul e Sudeste para desenvolverem estratégias BIM conjuntas. A capacitação é um dos objetivos fundamentais que a Estratégia traz para ajudar toda a cadeia, incluindo contratantes e contratados. Como a tecnologia avança muito rápido, todos precisam de capacitação contínua. O BIM não vai resolver todos os problemas da cadeia da construção civil, mas vai ajudar muito a darmos um passo à frente. Gostaria também ressaltar a importância do 9º objetivo da estratégia no incentivo da, por parte dos órgãos públicos, na utilização de padrões neutros de interoperabilidade BIM. Sabemos, que somente desta forma, poderemos garantir a livre concorrência do mercado entre as empresas prestadoras de serviços de arquitetura e das engenharias.
Estratégia BIM BR
A Estratégia BIM BR, lançada em 2018, tem o objetivo de coordenar a estruturação do setor público para adoção do BIM; criar condições favoráveis para o investimento público e privado da tecnologia; estimular a capacitação em BIM; além de diversos outros desígnios específicos para que a tecnologia seja inserida de forma obrigatória, principalmente, em obras públicas.
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