A corrida global da indústria espacial está em franca expansão. Após a aprovação do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST), em setembro, pelo Senado Federal, representantes do governo, do setor produtivo e da academia estão mobilizados para ampliar a competitividade do Brasil no espaço. Prova disso foi a presença de mais de 400 profissionais de diversos setores no primeiro dia do 3º Fórum da Indústria Espacial Brasileira, realizado pela Agência Espacial Brasileira (AEB), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), com o apoio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e outras instituições.
O AST, assinado entre o Brasil e os Estados Unidos, garante a proteção das tecnologias norte americanas utilizadas em componentes embarcados em foguetes e satélites, não bélicos, que serão lançados do Centro Espacial de Alcântara (CEA), propiciando o uso comercial do Centro. Vale ressaltar que cerca de 80% dos lançamentos comerciais no mundo contam com tecnologia dos EUA. Com a aprovação do documento, o governo dá início ao plano de operações comerciais em Alcântara. Segundo o MCTIC, a expectativa é que os lançamentos sejam iniciados em 2021.
O presidente da AEB, Carlos Moura, ressaltou que o desafio agora é definir a melhor estratégia de operação para o CEA. “Como estamos em uma corrida de dados global, o ‘filé’ desse mercado será a prestação de serviços. E isso depende integralmente do setor produtivo. Por isso, estamos empenhados em mapear e desenvolver nossas capacidades para desenvolver o setor espacial”, apontou.
Representando o ministro do MCTIC, Marcos Pontes, o secretário-executivo adjunto, Carlos Alberto Flora Baptistucci, destacou a importância da indústria espacial brasileira. “O ministro costuma dizer que ciência e tecnologia só fazem sentido se agregam valor para a sociedade. Essa indústria já agrega muito valor e passará a ter uma importância muito maior agora com a aprovação do AST, que abre o Brasil para o mercado aeroespacial mundial”.
O analista de Produtividade e Inovação da ABDI, Ricardo Gonzaga de Araújo, afirmou que a Agência está empenhada em contribuir com o setor produtivo brasileiro nessa corrida global. “Sempre estivemos ao lado da indústria de defesa e espacial e nossa missão é ajudar no mapeamento das oportunidade e dos desafios que se impõem a partir de agora”, afirmou, ao adiantar que o presidente da ABDI, Igor Calvet, será moderador de um painel no segundo dia do Fórum.
Base Industrial de Defesa
O diretor do Departamento de Produtos de Defesa, do Ministério da Defesa, Alcides Barbacovi, lembrou que este cenário de Alcântara abre uma nova perspectiva para a Base Industrial de Defesa (BID), cuja participação no Produto Interno Bruto brasileiro é de R$ 84 bilhões, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas de 2018. “A BID no Brasil é responsável por mais de 285 mil empregos diretos e outros 850 indiretos. Agora, com a implantação de Alcântara, as projeções de crescimento são exponenciais”, destacou Barbacovi, ao mencionar o Mapeamento da Base Industrial de Defesa, realizado pela ABDI e Ipea, em 2016.
Segundo o Mapeamento da ABDI, mais de 1,1 mil empresas compõem a Base Industrial de Defesa. São indústrias de armas e munições, sistemas eletrônicos e C2, propulsão nuclear, plataformas naval, terrestre e aeronáutica militar, sistemas espaciais e equipamentos de uso individual. O representante do Ministério da Defesa pontuou, no entanto, que há grandes entraves para o crescimento desse mercado: infraestrutura precária; excesso de burocracia; elevada carga tributária; déficit de mão de obra especializada; baixa integração entre universidades e empresas; alto custo de energia elétrica; baixa capacidade de investimento; além da falta de estímulos à inovação.
Para driblar esse cenário, segundo ele, o Ministério tem buscado a coordenação com outros órgãos. “Nosso objetivo é derrubar barreiras, inovar nas soluções que desenvolvam a BID e buscar parcerias com empreendedores do setor e do governo”.
Também participaram da cerimônia o diretor-geral do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial do Ministério da Defesa, Luiz Fernando de Aguiar; o secretário da Advocacia da Concorrência e Competitividade do Ministério da Economia, César Costa Alves de Mattos; o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil, William Popp; o diretor do Departamento de Acompanhamento de Assuntos Espaciais do Gabinete de Segurança Institucional, Marcus Antônio Carvalho de Lima; o prefeito de São José dos Campos, Felicio Ramuth; o diretor do Parque Tecnológico de São José dos Campos, Marco Antônio Raupp; e o presidente da Associação de Indústrias Aeroespaciais do Brasil, Hideo Shidara.
Em sua terceira edição, o fórum discute os benefícios socioeconômicos gerados a partir do setor espacial, aplicações possíveis, novos modelos de negócios aplicáveis ao setor e conexões da tecnologia espacial com outros setores produtivos. O evento promove a interação entre empresas e startups e entes governamentais, instituições de fomento, institutos de pesquisas e universidades.
Ao longo de dois dias, 19 e 20 de novembro, no Parque Tecnológico de São José dos Campos, a programação contempla sete painéis com participantes de alto nível dos setores público e privado. Os painéis têm o objetivo de abordar assuntos de relevância como perspectivas para a indústria espacial brasileira, a economia espacial e questões regulatórias. Além da AEB, MCTIC e ABDI, o 3º Fórum da Indústria Espacial Brasileira é realizado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, por meio da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE), e pelo Parque Tecnológico de São José dos Campos (PQTEC).
fonte: https://www.abdi.com.br/postagem/acordo-de-alcantara-aquece-industria-espacial
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