BELO HORIZONTE (31/01/2020) – Uma comunidade quilombola, do município de Berilo, no Vale do Jequitinhonha, está colhendo os frutos de um trabalho feito para melhorar a produção de uva. A atividade é tradição entre os agricultores do local, que há mais de 60 anos cultivam as videiras com técnicas passadas de pai para filho. Porém, um problema estava persistindo: a baixa produtividade.
Em 2013, o técnico da Emater-MG do município iniciou um trabalho para revigorar a produção da comunidade Morrinhos. A ideia foi usar tecnologias simples, mas que pudessem melhorar a produtividade, o manejo da cultura e a renda das famílias. “Antes o processo de produção era bastante rústico, com alto consumo de água por causa da irrigação feita por sulco, sem nenhuma tecnologia. Isso acarretava baixa qualidade e produtividade. Havia também grandes perdas devido ao ataque de pássaros”, explica Milton Machado de Oliveira, técnico da Emater-MG, empresa vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Os produtores da comunidade quilombola adquiriram kits de irrigação por microaspersão, madeiras de eucalipto tratadas para a reconstrução das estacas, além de telas de proteção contra o ataque de pássaros. De acordo com o técnico da Emater-MG, com as novas estacas de eucalipto, foi possível esticar melhor os arames que sustentam as videiras. O problema com ataque dos pássaros também foi resolvido.
Milton de Oliveira também conta que a substituição do sistema de irrigação, de sulco para microaspersão, reduziu significativamente o consumo de água. “Outra ação adotada foram as podas feitas no período certo, que permitiram o escalonamento da produção para colher mais vezes durante o ano. Antes colhiam apenas uma vez anualmente. Agora fazem até três colheitas por ano”.
Valorização
“O Vale do Jequitinhonha sempre teve uma fama muito ruim, chamado de Vale da Fome, Vale da Miséria. E a gente quer mudar isso, produzindo com qualidade”. A afirmação é da agricultora Rita Dutra. Com empolgação, ela fala da melhoria nas cinco parreiras que possui. Segundo ela, a produção chega a 12 mil quilos de uva por ano.
O uso de eucalipto tratado para escorar as videiras melhorou muito o manejo, diminuindo a mão de obra. “Antes a gente usava madeira do mato, apodrecia muito e não sustentava direito a parreira. A irrigação também ficou bem melhor”, diz a agricultora.
Hoje ela vende para escolas públicas, hospitais, feiras e para os vizinhos, e diz que o trabalho do técnico da Emater-MG foi fundamental para as mudanças na produção da fruta. “Ele ajuda a gente demais. Sempre que eu ligo, ele tira as minhas dúvidas. Ele dá orientação, faz os projetos pra gente. Considero ele um irmão”, afirma.
Para conseguir melhorar as condições das parreiras, alguns agricultores obtiveram recursos financeiros do Brasil Sem Miséria (BSM), um programa do governo federal e tem como objetivo a inclusão social e produtiva de famílias que vivem em situação de vulnerabilidade no meio rural. As famílias recebem um fomento no valor de R$ 2,4 mil para execução de pequenos projetos produtivos, como a implantação de hortas, de pomares e a criação de pequenos animais. Os beneficiários recebem ainda toda a assistência técnica da Emater–MG, para viabilizar acesso aos recursos financeiros e executar seus projetos.
A agricultora Andréa Lopes foi uma das beneficiadas pela assistência da Emater-MG e pelos recursos do BSM. Ela conta que a situação mudou muito na pequena parreira que cultiva. “Melhorou demais. Ficou mais fácil de irrigar. E agora, depois que colocamos a tela de proteção, a gente não perde tempo espantando os passarinhos. Dá tempo de cuidar de outras coisas”, afirma.
O trabalho de melhoria da produção de uvas na comunidade Morrinhos beneficiou 10 famílias de pequenos agricultores. “A iniciativa restabeleceu o otimismo quanto à atividade. E os agricultores têm investido na expansão de seus cultivos, o que nos faz acreditar que a ação desenvolvida impactou de forma definitiva os agricultores na condução de suas atividades. O processo trouxe ainda outro benefício: todos os produtores participantes do processo adotaram como premissa o cultivo em bases agroecológicas, minimizando o uso de adubos químicos e dispensando o uso de agrotóxicos”, afirma o técnico.
O aumento da produtividade nas lavouras da comunidade, de aproximadamente 50%, facilitou ainda o acesso ao mercado. A maioria prefere vender em feiras, não só em Berilo, mas de municípios vizinhos como Araçuaí e Virgem da Lapa. Porém, com mais oferta da fruta, alguns também conseguem comercializar para programas institucionais de compra de alimentos. Um exemplo é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), que estabelece uma cota mínima para que as escolas comprem produtos da agricultura familiar.
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